Pior que carga de tributos é a falta de demanda
Historicamente, um dos maiores problemas das indústrias é a carga tributária excessiva, mas, em 2019, ganha importância a falta de demanda de bens industriais, revela a última Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). É a mais recente evidência do custo da estagnação econômica para as empresas do setor secundário e da necessidade premente de medidas de estímulo ao consumo capazes de assegurar alguma injeção de ânimo na atividade produtiva e não apenas a um ou outro setor da economia.
No segundo trimestre do ano passado, a demanda interna insuficiente era citada por 30,3% dos entrevistados da Sondagem Industrial. Um ano depois, esse item é mencionado por 41,1% das 1.903 empresas consultadas, porcentual inferior apenas ao do auge da recessão, no segundo trimestre de 2016, indicando crescimento muito elevado. O indicador de demanda está agora próximo de outro tão ou mais problemático para os industriais: a carga de tributos. Esta é agora citada por 42,4% dos pesquisados.
Estes dois problemas não são, evidentemente, os únicos a evidenciar as dificuldades das indústrias, que atribuem peso expressivo às condições financeiras debilitadas, à insatisfação com as margens de lucro e ao excesso de estoques – que se vêm acumulando desde o início do ano e que também são causados pela insuficiência da demanda.
Na comparação entre o primeiro e o segundo trimestres de 2019, foi menos intenso o problema da falta ou do alto custo de matérias-primas, o que se explica pela atividade econômica insatisfatória. Mas os industriais acreditam que se agravou o risco de competição desleal, que inclui contrabando e dumping, ao mesmo tempo que cresce o peso negativo decorrente da burocracia excessiva. A menção desse problema por 15,6% dos entrevistados é recorde histórico.
Segundo a CNI, as indústrias ainda alimentam expectativas favoráveis para o futuro, mas os investimentos estão contidos, bem como as contratações de pessoal.
Fica evidente, assim, a expectativa de que liberações de recursos dos consumidores mantidos em fundos de poupança compulsória, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o PIS-Pasep, tragam algum alento à economia, mas isso dependerá da velocidade do ingresso desses recursos na economia.
Fonte: Estadão