ICOMEX: volume exportado aumenta e as importações recuam
O saldo da balança comercial de fevereiro foi de US$ 3,7 bilhões, o que levou a um saldo acumulado no primeiro bimestre do ano de US$ 5,9 bilhões.
Em valor, as exportações recuaram 6,4% e as importações, 12,4% em relação a fevereiro de 2019, mas os dois fluxos cresceram 1,4% na comparação entre os dois primeiros bimestres de 2018/2019.
O recuo nas exportações em fevereiro é explicado pela queda nos preços (-7,5%), pois o volume aumentou 1,1%. Observa-se que o aumento de 8,1% na comparação dos bimestres está associado ao crescimento em 15,1% do volume exportado entre os meses de janeiro de 2018/19. As importações registram comportamento inverso ao das exportações com aumento de preços, embora com valores inferiores a 2%, e recuo no volume importado de 12,9% entre os meses de fevereiro.
O aumento no volume exportado foi liderado pelas commodities que cresceram 27% (fevereiro de 2018/19) e 22,5% entre os dois primeiros bimestres de 2018/19. As não commodities registram queda nos dois períodos analisados. No caso dos preços, tanto as commodities como as não commodities registraram recuo.
O IBRE calcula os índices de preços e volume das commodities exportadas. São apresentadas as principais commodities exportadas, como a soja, o petróleo e o minério de ferro. Para os dois primeiros produtos, caem os preços na comparação dos bimestres e aumenta o volume. No caso do complexo da soja a diferença é marcante: preços (-1,8%) e volume (+39,6%). Como ressaltado no ICOMEX de fevereiro, a possibilidade de os Estados Unidos darem preferências para as compras de soja da China nas negociações da guerra comercial acende um sinal de alerta, dada a importância do produto na pauta de exportações brasileira.
A queda nos preços das exportações piora os termos de troca que, desde outubro de 2018 mostram uma trajetória descendente. Entre os dois primeiros bimestres de 2018 e 2019, os termos de troca recuaram em 8%.
Os índices de preços e volume agregados e por tipo de indústria
O bom desempenho das commodities explica a variação de 77,6% e de 33,6% no volume exportado da agropecuária e da indústria extrativa, respectivamente, no mês de fevereiro. A indústria de transformação registrou queda de 18%. No caso das importações, os volumes importados aumentaram na agropecuária e recuaram na extrativa e na indústria de transformação. Na comparação dos bimestres, o resultado segue o mesmo comportamento. Até o momento, portanto, os resultados repetem o desempenho de 2018, quando os setores de agropecuária e extrativo lideraram as exportações.
A participação da China nas exportações brasileiras aumentou de 18,5% para 23,8% entre o primeiro bimestre de 2018 e o de 2019. Os Estados Unidos, o segundo principal mercado, registrou participação de 12,8%, um pouco acima do resultado de 2018 (12%) e a crise argentina continua reduzindo a participação do país como mercado de destino das vendas brasileiras: passou de 7,8% (jan-fev 2018) para 4,4% (jan-fev 2019).
Índices de volume e categoria de uso.
Em boletins anteriores temos sempre chamada atenção para o efeito das plataformas de petróleo em função das mudanças no regime REPETRO. As plataformas estão incluídas na categoria de uso de bens de capital da indústria de transformação. A exclusão das plataformas faz com que a redução no volume exportado de bens de capital passe de 63,5% para 4,8% no mês de fevereiro, o que impacta no resultado da indústria de transformação de uma queda de 18% para um aumento de 2,2%. Ressalta-se que em fevereiro de 2018 foi contabilizada uma exportação de plataforma no valor de US$ 1,5 bilhões e em fevereiro de 2019, não há registro de exportação. Em compensação, houve aumento nas exportações de aviões em 61% (valor) e de peças para aviões em 214%. Os índices de volume são calculados com base nas toneladas exportadas e, logo, a inclusão ou não de plataformas gera um impacto relevante. Em relação às outras categorias de uso, destaca-se a queda dos bens duráveis associada à retração da venda de automóveis para a Argentina.
Nas importações, a influência das plataformas em fevereiro no volume dos bens de capital. Com as plataformas, a retração nas importações na comparação mensal de fevereiro é 53,9% e sem as plataformas é de 9,5%, o que reduz a queda nas importações da indústria de transformação de 14,4% para 5,7%. Exceto bens de capital, o volume importado de todas as outras categorias de uso recuam
Os indicadores de volume das importações de bens de capital e bens intermediários utilizados pela indústria de transformação são sinalizadores do nível de atividade dos setores. A análise desses indicadores mostra que o setor agropecuário continua, pelo menos no comércio exterior, numa trajetória de liderança nas exportações. A diferença nas compras de bens intermediários — recuo na indústria e crescimento na agropecuária — corrobora essa afirmação.
Por último, os resultados da balança comercial no primeiro bimestre de 2019 confirmam as principais características da pauta exportadora do Brasil, onde as exportações de commodities e a China ocupam um papel decisivo para assegurarem o aumento das exportações. A pauta com os Estados Unidos é mais diversificada — 10 produtos explicam 95% das exportações brasileiras para a China, enquanto para os Estados Unidos esse percentual é de 50%. A questão não é reduzir o comércio com a China, mas como incrementar a participação dos Estados Unidos nas exportações do Brasil.
Por Portal IBRE FGV