Governança Corporativa: Organizações devem repensar a prestação de contas
A prestação de contas na governança corporativa é um assunto que merece debates, principalmente quando se pensa nas inúmeras transformações que ocorrem no ambiente empresarial.
A accountability (prestação de contas) é um dos princípios básicos de governança corporativa que se traduz na prestação de contas dos agentes de governança corporativa de maneira clara, concisa e ética. Espera-se a postura de assumir integralmente as consequências dos atos e omissões, de maneira que todos os envolvidos assumam a responsabilidade por trás de seus papeis.
Em mais de 35 anos no mundo corporativo e desde 2015 à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, vejo na prática o quanto as empresas podem encontrar dificuldades na “simples” tarefa da prestação de contas.
Empresas devem se atentar às atividades realizadas ‘no automático’ em seu cotidiano
Há alguns anos temos presenciado os benefícios da tecnologia na mensuração de resultados em uma empresa; na agilização e otimização de processos; na implementação de novas metodologias de trabalho, etc. Mas com esse avanço, muitas ações importantes foram perdendo espaço, ou pior, significado.
Prestação de contas na governança corporativa é algo que está muito além da apresentação de relatórios e números, aliás, quando se pensa no universo empresarial, logo se pensa nos números, nas informações que podem ser visualizadas em gráficos, nas ações que estão descritas nos relatórios, porém, o ambiente organizacional demanda HUMANIZAÇÃO.
A inteligência artificial e a robotização substituirão cada vez mais a participação humana nas profissões? É verdade, para muitas pessoas que não forem flexíveis e que não aceitarem as mudanças, mas em contrapartida, será cada vez mais importante a participação humana no processo de conduzir essas mudanças tecnológicas.
Será necessário, principalmente quando se fala em governança corporativa, que haja nas empresas uma preocupação com os fatores humanos. Os princípios como a prestação de contas não podem ser cumpridos, como ocorre em grande parte das empresas, como atividade de praxe.
As organizações que ainda encaram suas atividades como um mero ato de prestar informações ou de cumprir o check list, estão fora do caminho do constante desenvolvimento e sucesso. Todas as atividades realizadas de maneira engessada nas empresas desconsiderando o fator humano nas relações, só trarão prejuízos ao crescimento.
De alguns anos para cá, por exemplo, temos ouvido falar cada vez mais nas soft skills, que são as competências ligadas à personalidade e comportamento profissional, que envolvem habilidades emocionais, sociais e mentais. O interessante é que essa demanda mostra que além de todas as qualificações técnicas (claro que também imprescindíveis), o relacionamento entre as pessoas está cada vez mais prejudicado.
Essa falta de humanização ou esse problema de relacionamento entre as pessoas em uma empresa afeta diretamente a prestação de contas na governança corporativa, assim como o cumprimento dos demais princípios básicos.
As ações em muitas organizações têm se tornado meramente “ilustrativas”, assim como muitas empresas tratam o tema governança corporativa como ‘termo da moda’ para ser bem visto, como também ocorre com prestação de contas em ações de sustentabilidade.
Compreensões em torno da Governança Corporativa – Prestação de contas
A apresentação de balanços e DRE’s não são as únicas “obrigações” a serem cumpridas, aliás, a governança corporativa precisa ser compreendida pelas organizações, os significados de seus princípios precisam fazer parte da cultura da empresa.
A prestação de contas na governança corporativa se relaciona com o ato de mostrar aos stakeholders, que está cumprindo a sua missão como organização, que está gerando valor, fazendo parte de mudanças importantes, que está inovando em seu segmento de atuação, impactando positivamente a economia na geração de empregos, que investe no desenvolvimento de habilidades entre os seus profissionais, que é agente de transformação na sociedade, etc.
A prestação de contas unida à transparência leva uma empresa a se tornar exemplo a ser seguido, inspirando outras empresas, inclusive, a repensar a sua reputação no mercado e a adotar a governança corporativa em sua atuação.
Sócios, diretores, gestores e demais agentes em uma organização devem agir com transparência na prestação de contas, o não cumprimento dessa regra na governança corporativa costuma levar a problemas de conduta e conflitos de interesses na empresa, afetando a sua imagem.
Outro ponto importante quando se fala em prestação de contas é que gera confiabilidade às partes interessadas.
O principal desafio para as organizações ainda é derrubar a barreira das ações empresariais engessadas e partir para uma compreensão sobre os seus atos, repensando, inclusive, o relacionamento humano entre os grupos.
Carlos Moreira – Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria) e CCO (Diretor Comercial e de Marketing).
Fonte: Jornal Contábil.