A democratização de acesso ao crédito precisa ser colocada ainda mais em prática
A pandemia de covid-19 derrubou a renda de muitas famílias brasileiras, com os índices de inadimplência registrados pela Serasa batendo recorde em abril, com 65,9 milhões de pessoas na lista de devedores e a taxa de desemprego atingindo 13,1% no mês de julho (IBGE).
Mesmo expressivo, o tsunami que o novo coronavírus causou em diversos negócios e orçamentos familiares não pode ser considerado o único motivo da inadimplência no país.
Isso porque, ainda de acordo com a Serasa, 4 de cada 10 adultos estão com contas em atraso e o montante deste grupo já estava na casa dos 60 milhões há um bom tempo.
Isso mostra que o problema, embora agravado pela crise econômica, já existia e o que percebemos no dia a dia é que a falta educação financeira tem um peso grande nessa conta.
E aí entramos em um ponto fundamental nos dias de hoje: o não pagamento de contas pode não somente acarretar no não recebimento de um serviço – como é o caso do fornecimento de luz e telefone – mas também abaixa o score do consumidor, que passa a ter, agora, as suas contas domésticas incluídas no Cadastro Positivo.
Por conta disso é que o citado histórico de comportamento de crédito, cuja lei de autorização foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2019, representa uma boa notícia para o cidadão, que pode ter maior disponibilidade de crédito no mercado, além de juros mais atraentes, partindo-se do pressuposto de que as instituições financeiras conseguem conhecê-lo melhor.
Deixar de pagar uma conta de celular por esquecimento é diferente de se enrolar no cartão de crédito por negligência financeira, por exemplo. Dívidas não são iguais e as motivações que as antecedem também não.
Com a recente inclusão das telefonias no Cadastro Positivo e a eminente adição das contas de luz, água e gás, muitos consumidores sem acesso a empréstimos poderão se beneficiar, especialmente os desbancarizados, que não buscam o serviço nas instituições tradicionais.
A tendência é que o Cadastro ajude a mudar o comportamento das famílias, ao fazer com que a quitação das contas domésticas ganhe ainda mais importância, evitando, ao menos, parte da atual taxa de inadimplência mencionada.
No entanto, cabe dizer que a democratização do acesso ao crédito precisa ser colocada ainda mais em prática.
Avançamos no tema, mas ainda são quatro as empresas que controlam as informações em questão no Brasil, o que dificulta o dia a dia, especialmente, das fintechs que precisam pagar pela consulta ao Cadastro Positivo e, muitas vezes, descobrir que o cliente em questão não pode de fato tornar-se um cliente porque tem dívidas em atraso.
Ou seja, é importante acompanharmos a evolução deste modelo no Brasil e vermos se ele conseguirá atender aos que se afogaram nas ondas da crise.
Por Fernando Iodice, cofundador da fintech iq e vice-presidente do grupo Red Ventures no Brasil